Yara Pina
Corpos à flor da terra (2021)
cabos de madeira cravados na terra contendo marcas que
remetem às profundidades das covas onde foram
encontrados corpos de pessoas desaparecidas no Brasil
instalação
165 x 400 cm
Em Corpos à flor da terra reflito sobre desumanização post mortem que atinge as vítimas de vários cenários de violência envolvendo não apenas a ausência de sepultura e ritos funerários, mas também o desaparecimento de seus corpos como forma de apagar a autoria e os rastros das barbáries de suas mortes. Neste último caso, para que não sejam localizados, para que não reste qualquer traço humano, os corpos, quando não destruídos devem ser descartados nas covas rasas, desovados em cemitérios clandestinos, ou ainda deixados em terrenos baldios, matagais ou zonas de difícil acesso. Podemos chamar de corpos à flor da terra, os cativos dos navios negreiros enterrados a um palmo da terra no cemitério do Valongo, os indigentes dos cemitérios públicos, as vítimas da repressão da Ditadura Militar, dos esquadrões da morte, dos grupos de extermínios, do tribunal do narcotráfico, das milícias, das operações policiais, assim como, as vítimas do feminicídio, da transfobia e da homofobia. A instalação é composta por cabos de pá de madeira cravados na terra contendo marcas, entre 10 e 150 cm que remetem às profundidades das covas onde foram encontrados corpos de pessoas desaparecidas no Brasil.